A lira obscena

Marcus Fabiano, Advogado
O CRÍTICO DE ARTE
aplausos eram – ele dizia
uma sagração pelo construtivo
dos eletrônicos, os mais antigos
transístores sobre biscoitos finos
afanados entre os mais molambos
de um esperto Malaquias
habilidoso paneleiro
e fabricante de virtuoses
pela fala doce mais verbosa
(a trapeira do seu parangoléxico
ali lhe conferia ares de graça
de profeta vaticinando que
em sua memória uma mortidão
de grãfinos impronunciáveis
envergaria black ties obrigatórios
ao som de diáfanas taças tchecas
e obscuras teorias francesas)
no equinócio de um ano sabático
aquela anunciação dos nervos
crispava o seu cenho porejado:
ele era tramas, todo dedos
delicadíssimo e multicerticado
nos mais mínimos milímetros
de que desacordos não feririam
sua alteza o presidente
do alto patronato da míngua
(um tipo Calígula de Quintino)
faraó das cifras e alíquotas
o grão mecenas da lavanderia
que mascando seu charuto
suspirava por putinhas.
OS NOVOS BROQUÉIS
dito um certo oblíquo
de requintes despojado
sem as maneiras finas
do nu e do calvo
libidinoso e dissoluto
feito um fauno
ou antes mesmo um tarado
que se apresenta inconveniente
(de pau duro & pelado)
que atinge de través
como a cilada inevitável
que não é de quina perfeita
como o canto do esquadro
que chega bicudo e hostil
como o cotovelo do gaiato
que alvoroça e aterroriza
a sentinela em sobressalto
que brandindo seu escudo
enfim revida o atentado
mas não um escudo muro
dos de imenso anteparo
e sim um bem pequeno
a bem dizer discoide ou ovalado
um escudo então redondo
(sem as coberturas do biombo)
que para se exprimir corretamente
remove o pó da palavra broquel
– a mesma dos Broquéis de Cruz e Sousa:
um escudo ágil e de estreita loisa
que traz no centro de sua calota
uma ponta muito aguda
(por isso dita broca?)
recurso derradeiro de quem
surpreendido sem seu gládio
conserva na própria defesa
o rechaço do adversário.
O autor é professor de Hermenêutica da UFF